O futuro do setor elétrico sob a perspectiva dos CEOs.
Na Sessão Paris 2024, CEOs e líderes C-Level de todo o mundo se reuniram para debater os desafios da transição energética.
O Fórum de CEOs, evento tradicional da Sessão Paris, reuniu mais de 100 executivos e líderes de empresas de energia. O tema central foi “O setor elétrico está liderando a descarbonização e promovendo a eletrificação de outros setores da economia”. O encontro, realizado pelo CIGRE Internacional em agosto, no Palais des Congrès, na capital parisiense, teve a moderação de João Carlos Mello, Diretor-Presidente do Comitê Nacional brasileiro do CIGRE, e Marcio Szechtman, então vice-presidente técnico do CIGRE Internacional. As discussões foram divididas em quatro grandes tópicos.
Transição energética – Antonio Iliceto, Coordenador do Study Committee C1 – Power System Developments & Economics, apresentou a visão deste Comitê, destacando o papel central do setor energético na descarbonização. Ele alertou que soluções abrangentes exigem a colaboração com outras indústrias, como as de biomassa e hidrogênio. Vince Sorgi, CEO da PPL Corporation e presidente da EPRI, ressaltou que alcançar emissões líquidas zero de CO2 até 2050 é um desafio monumental, que envolve equilibrar forças divergentes: aposentadoria de modelos de geração, substituições renováveis e o crescimento da demanda ressurgente.
Modelo de negócios – Alex Cruickshank, Coordenador do Study Committee C5 – Energy Markets and Regulation, destacou que, embora os fundamentos do mercado permaneçam inalterados, novas tecnologias estão transformando os valores da sociedade. José Manuel Revuelta Mediavilla, da ENEL Itália e Espanha, apontou que as incertezas no setor elétrico criarão cenários de gestão e financiamento cada vez mais complexos e imprevisíveis. “Não depende apenas de você. Sua centralidade no cliente e a sustentabilidade empresarial são fortemente impactadas pela concorrência. Como gerenciar isso?”, questionou.
Riscos – Jayme Darriba Macêdo, Coordenador do Study Committee C2 – Operation and Control, comentou que a eletrificação intensiva trará novos desafios para os operadores de sistemas, principalmente devido à crescente demanda de consumidores emergentes, como produtores de hidrogênio, data centers e mobilidade elétrica. Esses segmentos se unirão às indústrias tradicionais na migração de fontes fósseis para a eletricidade, resultando em maior carga e variabilidade da demanda. S.R. Narasimhan, presidente e diretor executivo da Grid Controller of India Limited (GRID-India) e presidente do GO15 (Association of the Very Large Power Grid Operators), falou sobre os impactos significativos da descarbonização sobre a demanda, além dos desafios intrínsecos enfrentados pelos operadores de rede.
Força de trabalho – Wilfried Breuer, diretor executivo da MR e presidente do Comitê Nacional Alemão do CIGRE, e John H. Mueller, proprietário da G&W Electric dos Estados Unidos, expressaram preocupações semelhantes sobre a escassez de profissionais no setor elétrico. Na Alemanha, Breuer observou que a demanda por substituição de trabalhadores envelhecidos e a necessidade de atender às demandas da transição energética ocorrem em um cenário de declínio no número de graduados e novos alunos em engenharia – uma queda de 35% nos últimos dez anos. Mueller ressaltou que nos EUA há mais aposentados do que novos profissionais ingressando no setor, e que as matrículas em engenharia estão em declínio.
A Sessão Paris 2024 estabeleceu novos recordes, com 4.575 delegados de 99 países. Ao todo, estiveram presentes 11.215 participantes, com uma presença diária no evento de mais de 5.000 pessoas. A bienal também registrou a seleção inédita de 1.185 artigos técnicos, um aumento de 50% em comparação com edições anteriores, mesmo ocorrendo entre os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris. As sessões de pôsteres também contaram, ao longo dos cinco dias do evento, com grande presença de interessados – entre 1.100 e 1.600 participantes.
A feira que ocorreu paralelamente às discussões da Sessão Paris 2024 contou com a presença de mais de 300 companhias internacionais, entre provedores de serviços e de tecnologia. A feira ocupou 17.300 metros quadrados do Palais des Congrès, espalhando-se por três pavimentos.
O Brasil teve grande representação nessa edição do principal evento do CIGRE, com uma delegação composta por 166 participantes, entre os quais estavam 102 membros do CIGRE-Brasil. Os representantes brasileiros participaram dos debates e tiveram trabalhos técnicos aprovados, oferecendo uma contribuição efetiva para as discussões ambientadas no evento.
O evento também marcou mudanças na liderança do CIGRE. Konstantin Papailiou foi nomeado novo presidente da instituição, enquanto Rannveig Loken, a primeira mulher a assumir a presidência do Conselho Técnico, tomou a frente dessa área vital para o futuro do setor elétrico. A eleição da norueguesa Rannveig Loken foi muito comemorada como um marco de diversidade e inclusão, objetivos que vêm sendo perseguidos pela instituição.
Ao encerrar seu mandato, Michel Augonnet deixa um legado de gestão visionária, marcada pela inovação, colaboração e crescimento. Durante sua presidência do Conselho Técnico, Marcio Szechtman destacou-se pela busca contínua pela excelência técnica, o que ajudou a manter o CIGRE como referência global para o desenvolvimento do setor elétrico.
Papailiou afirmou que pretende dar continuidade ao trabalho realizado por Augonnet e Szechtman, que ele elogiou, destacando principalmente a atuação das duas lideranças durante a pandemia. O novo presidente do CIGRE destacou que a ideia é que a entidade se torne cada vez mais inclusiva, atraindo mais mulheres e jovens para os seus grupos de estudo. Ele destacou que há um grande número de projetos voltados para contribuições para a transição energética, que contam com recursos para desenvolvê-los. Mas faltam recursos humanos para levar adiante esses projetos. A ideia é buscar formas de resolver essas questões juntamente com os fóruns de mulheres e de jovens da instituição. Outra iniciativa a ser encampada por Papailiou será apoiar o trabalho realizado pelos Comitês Nacionais do CIGRE.
Outro momento importante foi a tradicional premiação, na Cerimônia de Abertura, dos voluntários, que colocam suas expertises a serviço do desenvolvimento do setor elétrico por meio de sua atuação no CIGRE. Nessa edição da Sessão Paris, receberam a Medalha CIGRE, um reconhecimento aos melhores voluntários, Mladen Kezunovic e Ja-Yoon Koo. Também foram agraciados com os prêmios CIGRE Fellow, CIGRE Honorary, Women in Energy e Next Generation Network outros 25 membros do CIGRE.
Entre os voluntários que tiveram os seus trabalhos reconhecidos com essas premiações estavam técnicos brasileiros. Receberam a premiação CIGRE Honorary Member Jayme Darriba Macedo e Saulo José Nascimento Cisneiros. Eduardo Marcio Teixeira Nery estava entre os voluntários agraciados com o CIGRE Fellow Award. Angélica da Costa Oliveira Rocha foi premiada na categoria Women in Energy Award.
O Fórum de CEOs, que reuniu os principais líderes empresariais do mundo, foi apenas uma das grandes atrações da edição deste ano da Sessão Paris 2024. A Sessão CIGRE Paris abordou 16 tópicos, alinhados às áreas de estudo do Comitê de Estudo, incluindo Digitalização, Armazenamento, Redes e Flexibilidade, Sustentabilidade e Clima, Energia Solar Fotovoltaica e Eólica, Hidrogênio, Consumidores, Prosumidores, Veículos Elétricos e Integração Setorial.
A programação bienal, com foco na transição energética, apresentou temas que reforçaram esse movimento global. Essa visão ficou clara já na Cerimônia de abertura, em que o presidente do Conselho técnico, Marcio Szechtman, destacou o vínculo entre os domínios técnicos do CIGRE e a transição energética. Michel Augonnet, presidente do CIGRE, também fez um balanço sobre o momento atual da instituição. A abertura contou com a participação de Keisuke Sadamori, diretor de Mercados de Energia e Segurança da Agência Internacional de Energia (AIE), que abordou a integração de energias renováveis e suas implicações para a segurança das redes e mercados de energia globais – um tema que também afeta os sistemas elétricos no Brasil.
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